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domingo, 1 de julho de 2018

30 ANOS DE SUPER XUXA CONTRA BAIXO ASTRAL: AS HISTÓRIAS, CONTINUAÇÃO NÃO LANÇADA E ATÉ INTRIGAS

Em entrevista para a QUEM, Anna Penido revela detalhes dos bastidores do filme, da escolha de Guilherme Karan, morto em 2016, para o emblemático personagem título e conta como seria a continuação que nunca saiu do papel.



Pôster atualizado de Super Xuxa contra Baixo Astral (Foto: Reprodução)

Na sequência inicial de Super Xuxa Contra Baixo Astral, filme lançado em 30 de junho de 1988, há exatos 30 anos, uma exuberante Xuxa Meneghel, na época com 25 anos, canta Arco-Íris (vou pintar um arco-íris de energia...) enquanto pinta um muro na companhia de crianças de rua. Na cena, são exibidos os logotipos de pelo menos seis marcas diferentes. Os merchandisings custearam a psicodelia que vem a seguir: em busca de seu cãozinho Xuxo e de crianças desaparecidas, Xuxa entra em um mundo paralelo que inclui desertos, o fundo do mar e o esgoto onde vive personificação do mal, o Baixo Astral, que dá nome ao filme. 


Xuxa Meneghel em cena do filme (Foto: Reprodução)

 O clima delirante de Super Xuxa estava alinhado com as produções que eram tendência em Hollywood, como Labirinto: A Magia do Tempo (1986), A História sem Fim (84) e O Cristal Encantado (82). Para o Brasil, no entanto, quase tudo era novidade – o cinema infantil era território dos Trapalhões, que exploravam a fantasia com títulos como Planeta dos Macacos (1976), Arca de Noé (83) e Mágico de Oz – ou Oróz – (84), mas as produções careciam de acabamento. Super Xuxa foi pioneiro no processo “blockbuster” de fazer cinema: teve grande investimento, muitos efeitos especiais – ainda que bem mais artesanais do que os estrangeiros – e uma estrela que já arrebatava espectadores na TV e em shows enfim mostrando todo seu potencial nas telonas.

O longa levou quase 3 milhões de brasileiros para os cinemas e preparou o terreno para Princesa Xuxa e os Trapalhões (1989) e Lua de Cristal (1990), sucessos avassaladores da rainha dos baixinhos – ambos tiveram mais de 4 milhões de espectadores cada. Super Xuxa também ajudou a definir a imagem mítica de Xuxa, já que fazia apenas dois anos que ela comandava o Xou da Xuxa, com sua nave espacial e figurinos nonsense.


Xuxa Meneghel, na época com 25 anos (Foto: Reprodução)

Quem é essa Xuxa?
O filme saiu da imaginação da então recém formada cineasta Anna Penido,brasileira com mãe americana que estudou cinema em Los Angeles. Ela se destacou no curso com um curta-metragem com temática infantil, que chegou a chamar a atenção da equipe de Steven Spielberg, mas seu objetivo era  fazer filmes para crianças brasileiras. “Eu ainda estava nos EUA e meu pai sugeriu, ‘por que você não escreve um filme para a Xuxa?’ e eu perguntei, ‘quem é essa Xuxa?”, ela recorda, em conversa com a QUEM. A cineasta vive atualmente em Los Angeles e se dedica a, entre outras atividades, dirigir documentários.



Xuxa Meneghel e Anna Penido: amizade atraiu inveja, conta a diretora (Foto: Reprodução)

De volta ao Brasil, Anna se debruçou sobre o fenômeno que era a apresentadora. “A Xuxa tem o poder da comunicação. Ela é muito autêntica, positiva”, diz. Assistindo ao Xou da Xuxa, teve a ideia central do filme. “Desde sempre o Brasil está em alguma crise. Rola uma energia negativa. Vemos notícias ruins uma atrás da outra e daí ninguém consegue ver o que é bom. E eu acredito numa força interior que se sobrepõe a qualquer outra e ultrapassa obstáculos. É uma coisa do budismo, na qual eu estava sendo iniciada. E sou amante da natureza, que para mim é um local de regeneração dessa força”.



Michael Jackson em Captain EO: figurino inspirou a roupa de Xuxa no filme (Foto: Reprodução)

O roteiro foi escrito em frente à TV, com Anna assistindo Xuxa diariamente. “Gosto de filmes imaginativos, de viagens lúdicas em busca de algo interno e amo Alice no País das Maravilhas”, diz. O texto chegou à apresentadora pelas mãos de Denise Prado, que produziu o longa. Na época ela trabalhava com Marlene Mattos e convenceu a ex-empresária de Xuxa a dar atenção ao projeto de Anna. A apresentadora e sua equipe compraram a ideia e a roteirista foi escalada como diretora do longa.


Roteiro foi alterado para comportar merchandisings
“Quando a gente escreve deixa a imaginação livre. Quando sentei com o David (Sonneschein, americano que assina os efeitos especiais) para analisarmos o roteiro, ele me disse: ‘vai dar muito trabalho’", conta. Ainda assim, nada precisou ser cortado por impossibilidade de execução.


Luiz Ferré e Roberto Dornelles desenvolveram os bonecos do filme; Posteriormente, trabalharam em TV Colosso (Foto: Reprodução)

“A Anna tinha um olhar de produção muito diferente de condução de um grande projeto, que ela trouxe da cultura americana. Era algo que não se fazia aqui”, diz Luiz Ferré, do grupo Cem Modos. Ele e seu sócio, Roberto Dornelles, desenvolveram para o filme os personagem Xixa, uma lagarta cigana, e Xuxo, o cãozinho de Xuxa, que eram fantoches. O grupo fazia espetáculos de teatro e tinha trabalhado nos programas da Globo Plunct, Plact, Zuuum (1983) e Clip Clip (1984).

Xixa foi confeccionada com látex e teve duas versões, uma pequena para contracenar com Xuxa e uma grande para os closes. “Era um conceito da Anna, que tinha tudo na cabeça, sabia o que queria. E o Xuxo foi uma criação da Xuxa, que falou como queria que ele fosse, a cor, o nome”, lembra Ferré. Originalmente, Xuxo seria um cachorro de verdade.


Quatro anos depois do filme, Ferré e Dornelles estrearam a TV Colosso, que substituiu o Xou da Xuxa na grade da Globo.  Diferente do que se acredita, Xuxo não deu origem aos cães do programa. “Já tínhamos no nosso repertório alguns cachorros. Era um animal que já gostávamos, mas a TV Colosso não veio dele”. Apesar da vontade deles, Xuxo também nunca chegou a aparecer por lá. “A Xuxa nunca deixou, era ciumenta”, brinca Ferré. O personagem entrou para os licenciados da loira e virou brinquedo e personagem de seu programa, além das histórias em quadrinhos.


Xuxa Meneghel em cena repleta de merchandisings (Foto: Reprodução)

A captação de recursos para Super Xuxa ficou com Diler Trindade, que era novato na área, e hoje acumula créditos em  mais de 30 longas, entre eles os sucessos Maria Mãe do Filho de Deus (2003) e Trair e Coçar é Só Começar (2006). “Ele vende qualquer coisa. O filme não teria saído sem ele”, diz Anna. O roteiro sofreu alterações para comportar os menchandisings que pagaram as contas. A cena do deserto, por exemplo, foi criada especialmente para que aparecessem bonecos Lango Langos, febre nos anos 1980.

Os cenários incluíam um cristal emprestado de um colecionador e um covil para o Baixo Astral, que reproduzia os encanamentos de um esgoto e era escuro e difícil de filmar. “E foi ficando sujo e fedorento. Era complicado para limpar e perigoso para os atores”, recorda Anna. A direção de arte foi assinada por Yurika Yamasaki, que depois trabalhou nos filmes Lua de Cristal, O Noviço Rebelde (1997) e Lavoura Arcaica (2001).


“Trabalhei com artistas fenomenais. O Brasil tem muita criatividade, jogo de cintura. Tinha gente ali que vinha do teatro, de escolas de samba”, lembra Anna. Sobre o elenco, ela diz que “a Globo sugeriu nomes, mas preferi fazer testes e escolher atores desconhecidos, mas que tivessem a energia para o papel”. O único ator Global foi Jonas Torres, que interpreta Rafa, o garoto raptado por Baixo Astral. Na época ele fazia sucesso na série Armação Ilimitada e foi escalado estrategicamente para atrair o público pré-adolescente.


Guilherme Karan foi o único a fazer teste para o Baixo Astral (Foto: Reprodução)

Anna lembra a escolha de Guilherme Karan, morto em 2016 aos 58 anos, para viver Baixo Astral. “Ele entrou no teste super nervoso e não me impressionou. Eu queria um cara feio, ele era bonitão, forte, simpático. No meio do teste ele parou e falou ‘tá uma merda’. A gente riu, ele brincou, recomeçou e foi espetacular. O contratei sem nem ver os outros candidatos para o personagem”. A caracterização de Karan incluía lentes de contato, unhas postiças e maquiagem prateada inclusive nos dentes.

O ator morreu em decorrência da síndrome de Machado-Joseph, uma doença degenerativa. Ele atuou em Super Xuxa aos 30 anos e logo depois fez sucesso na TV Pirata e na novela Meu Bem, Meu Mal (1990), seguindo ativo até 2005, quando a doença se manifestou.



Super Xuxa contra Baixo Astral levou 3 milhões de brasileiros ao cinema (Foto: Reprodução)

O filme foi rodado em quatro semanas e quase totalmente em estúdio. Daquela época, Anna lembra que Xuxa era “muito honesta" e falava o que pensava. "Era muito profissional, entusiasmada. Não se incomodava em repetir uma cena várias e várias vezes, nunca reclamou”. Ferré ressalta que “a Xuxa tem essa coisa de entrar em um modo ‘fantasia’ e contracenar com qualquer coisa. Poucos atores têm essa capacidade de jogar com algo que não seja real.” Xuxa passa quase o filme todo interagindo com bonecos e cenários lúdicos. O visual da loira no filme foi inspirado no de Michael Jackson no curta Captain EO, exibido nos parques da Disney no final dos anos 80.


“Quando você tem um sucesso assim, tem sempre quem queira te derrubar”
Logo depois da estreia, Anna foi mãe pela primeira vez e não participou das produções tocadas pelo sócio Diller Trindade, como Sonhos de Uma Noite de Verão(1990) e Inspetor Faustão e o Malandro (1991). Anna se focou em novos filmes da Xuxa, que começava uma carreira internacional, e em uma possível continuação de Super Xuxa, na qual ela exploraria outras dimensões, com viagens no tempo para outras épocas. “Mas não usaram meus roteiros e preferiram outros diretores para os filmes seguintes. Fui me afastando e segui minha vida. Mas quero que a crianças vejam o filme com alegria e que as coisas bonitas se sobressaiam.  Ninguém precisa ver o que dá errado nos bastidores”, diz Anna.


Xuxa Meneghel não tinha nenhum estrelismo, segundo equipe (Foto: Reprodução)

“Eu e Xuxa ficamos amigas na época, mas algo aconteceu. Uma vez um jornal publicou que estávamos brigando nas filmagens, que Xuxa me achava incompetente, mas era tudo inventado. A Marlene chegou a me dizer que sabia quem tinha feito aquilo, mas nunca me disse”, conta Anna. “Eu era muito nova, marinheira de primeira viagem. Quando você tem um sucesso assim, tem sempre quem queira te derrubar. Muita gente ficou enciumada porque eu vinha dos EUA e estava com a Xuxa, mas foi sorte minha.”

O último encontro das duas foi para um making of do filme produzido para o lançamento em DVD em 2001. “Matamos um pouco da saudade e conversamos sobre voltar a trabalhar juntas. Eu disse ‘está aqui meu telefone’ mas nunca ligaram”.

Relançado em DVD em 2017 pela Bretz Filmes, em um box especial com Lua de Cristal, Super Xuxa permanece em um limbo judicial por ser propriedade da Dreamvision, empresa de Anna Penido e Diler Trindade. “Pretendo encerrar essa sociedade, mas de maneira justa. Gostaria de ter os direitos autorais do filme justamente para dar mais valor à obra”.


Cult aos 30 anos 
Na década seguinte ao lançamento, com o salto de qualidade técnica das produções cinematográficas estrangeiras, que incluíram as animações computadorizadas a partir de 1995 com Toy Story, Super Xuxa envelheceu e passou a ser visto como filme “trash”, classificação dada a produções tidas como de gosto duvidoso, porém com público cativo. Agora aos 30 anos, com o resgate de estilo dos anos 80 promovido pelo sucesso da série Stranger Things, da Netflix, e até do filme Bingo: O Rei das Manhãs, que revela a trajetória do palhaço Bozo, entre outra produções, Super Xuxa contra Baixo Astral ganhou ares de “cult”, apesar de nunca ter deixado de habitar o imaginário de quem foi “baixinho” naquela década.


FONTE: https://revistaquem.globo.com/Series-e-filmes/noticia/2018/06/30-anos-de-super-xuxa-contra-baixo-astral-historias-continuacao-nao-lancada-e-ate-intrigas.html

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